Quem sou eu

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ataque cardíaco e folhas secas.

   Quase não posso ouvi-lo!
Sussurrou em voz baixa. A voz que vinha de pouco abaixo do meu queixo era abafada pelo som da chuva que começara há pouco, chegava aos meus ouvidos em um tom tão baixo que quase perdia ao expandir-se no ar.
Antes de retrucar a afirmação fiquei fitando por um momento as estrelas falsas que cintilavam no céu de concreto, meus olhos faiscavam, a sonolência ia me dominando aos poucos, claro que todo o álcool consumido na cena anterior ajuda um pouquinho.
-   O que você não consegue ouvir?
Eu já sabia do que se tratava, mas preferia fazer de desentendido naquele momento.
-   Seu coração.
A resposta nem tardou a sair, as tão poucas sussurradas palavras me fizeram refletir.
Era tão imperceptível que nem eu mesmo conseguia senti-lo, mas eu sabia que meu coração estava ali (pelo menos queria muito que estivesse), não poderia ter simplesmente desaparecido, eu o havia sentindo pulsar forte, muito forte, na pequena corrida da noite passada (quase o coloquei pela boca) quando  tentava assustar as meninas com uma folha seca como se fosse uma barata  (ta eu sei, não tive infância), mas voltando ao assunto,  acho que é a idade esta me alcançando vagarosamente no gozo da minha juventude.
Onde estaria meu coração naquele momento? Queria muito um estetoscópio em mãos, e sempre bom ter certeza de tudo (ainda mais quando esse “tudo” se refere a nossa pessoa), pelo menos assim eu ficaria menos preocupado com a ausência de um coração em meu peito.
Peguei meu pulso esquerdo, pressionei meus dedos no ponto exato, e lá estava ela (alívio), a pulsação, nunca foi tão agradável senti-la, pelo menos agora sabia que algo estava bombeando o sangue para o restante de meu corpo. Bem, creio que era o coração, pois até hoje desconheço outro órgão que tenha tal funcionalidade, acho que nenhum se assemelha a ele.
Imagina se de uma hora para outra um órgão qualquer assumisse o renomado cargo cardíaco, e assim sucessivamente ate que eu estivesse pensando por outra cabeça (é, eu sei que minha imaginação é foda).
Acho que ainda tem muito etanol em meu organismo (vou parar de beber! “haha” até parece). Esses pensamentos tomaram alguns segundos de meu raciocínio ate que finalmente se transformaram em palavras.
-   Acho que estou tonto.
Nossa! São incríveis essas desculpas esfarrapadas elaboradas momentaneamente para abafar qualquer situação que possivelmente possa nos trazer algum desconforto futuro. Na verdade  naquele momento eu estava desconfortável, pouco empolgado, meio alcoolizado e nada excitado! Pronto, se fosse tudo ao contrario a noite seria no mínimo prazerosa (não, eu não sou pervertido!). Mas nem sempre as noite são como planejamos, não que eu tenha planejado nada, mas é que... melhor deixar pra lá.
-   Então não beba mais.
-   Tudo bem. (fim de papo!)
O resultado de uma desculpa esfarrapada bem dada pode ser muito satisfatório, alem de você se livrar de uma possivelmente cara amarrada ou uma discussão ilógica sobre “o que há de errado comigo?” (neste caso com a outra pessoa),se você for “expert” no assunto pode ainda levar lucro na historia, digamos em palavras mais simples que desculpas esfarrapadas aplicadas de tal forma não fazem mal a ninguém, os dois lados saem satisfeitos (alias, talvez não completamente), ainda estou alterado, desgastado, e continuo virgem (“haha”).
Mas pelo menos no fim de tudo sei que tenho coração, neste silêncio cruel que habita meu quarto abafado, é nítido o som emanado de meu escasso peitoral.
Mesmo que eu não use muito de minha bomba ejetora de sangue (inconscientemente falando), ele estará ali, pra quem sabe um dia alguém consiga lhe provocar um ataque cardíaco.
( Rafael Augusto )

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