Quem sou eu

terça-feira, 28 de setembro de 2010

As vezes nunca.

Começo de um possivel  fim.

A rua já era conhecida por ele, caminhara por ali outras vezes, mas dessa vez era diferente das demais. O clima estava meio sombrio, denso, o cominho para casa nunca fora tão grande, mas mesmo assim seguiu soluçando entre as silhuetas escuras que às vezes lhe encaravam pelo canto dos olhos, seguia deslizando os dedos sobre a superfície áspera do muro branco que serpenteava a sua frente ate onde a vista turva alcançava, parecia interminável, na cabeça apenas imagens turvas do que havia lhe passado, no peito um aperto que parecia lhe comprimir ate a alma, seu corpo apenas seguia o que havia habituado a fazer . Era tarde, mas com certeza horário não era o que ele tinha em mente enquanto caminhava atordoado. Horas atrás estava torcendo para que os minutos demorassem a passar para que não precisasse ir embora, agora a agulha do relógio de pulso parecia não mover.

No começo.

A imagem sorridente a sua frente lhe fazia sinal para que entrasse logo, parecia ansioso, mas era evidente o ar de preocupação pairando ali, atendendo lhe o pedido deixou a calçada para traz e adentrou na casa amarela, não podia esperar mais nem um minuto pelo que passara algum tempo planejando.
A figura estendeu-lhe a mão novamente conduzindo ao interior da casa, não havia muito que falar, suas longas conversas deixavam para depois dos atos seguintes, lá dentro, o silêncio era quebrado apenas pelo som da respiração que a cada minuto se tornava mais ofegante, assim seguiu por um bom tempo.  Agora no quarto sob luz baixa cumpria se todas as expectativas.

Penúltimo ato.

A noite poderia ter terminado como qualquer conto de fadas (felizes para sempre e etc...) se não fosse pela cena de novela das oito tomando parte da realidade (a esposa bandida trai o marido com um fulano qualquer, e depois de uma bela transa ainda tem a cara de pau de contar ao corno que esta com outro), é, foi mais ou menos isso que aconteceu. Se fosse descrever detalhadamente esta cena, Shakespeare se reviraria no túmulo (que Deus o tenha!), seria o melhor drama contado por mim (e olha que de drama eu entendo).
Após o fato tinha ele duas escolhas, aceitar ser um personagem secundário de sua própria historia e seguir compartilhando de um mesmo coração, ou terminar a noite sem um beijo de despedida e seguir rumo ao muro branco ate perder de vista para sempre a casa amarela, nenhuma das opções lhe caiam bem, a historia já não era tão fabulosa como a princípio achava, a escolha era tão dolorosa quanto à descoberta anterior, mas teu orgulho e amor próprio falaram por ele, entre lagrimas e sem beijo de despedida deixou a figura em pé no portão sem expressão fitando-lhe as costas enquanto seguia cabisbaixo sumindo na noite escura que lhe absorvia.

Queria poder ter escrito um ato final que pudesse encerrar com“felizes para sempre”, mas nem todas as historias tem um desfecho como esperado, vou deixando então um penúltimo ato, porque talvez esse não seja realmente o final, não estou dizendo que quero continuar a escrever este conto (porque não quero), na verdade prefiro acreditar que o haverá outras historias para redigir, com finais que tragam felicidade ao personagem principal, mas enquanto isso vou seguir as linhas que um autor muito maior que eu já tratou de escrever para mim.
( Rafael Augusto)

" Um dia o homem aprenderá que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que ele o conserte. "

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